Carta aberta (e talvez até de repúdio) a mim mesmo, senhor Felipe Oliveira Alecrim.
11 de novembro de 2018 e eu ali, me achando o maior pensador contemporâneo, divulguei um texto de minha autoria, chamado INCONSTÂNCIA.
De lá pra cá (dia que escrevo essa carta) foram 4 anos, 1346 dias, 32304 horas, uma pandemia global começou, chegou no seu auge, matou milhões, nos trancou dentro de casa e mudou tudo.
E eu nem pretendo comentar tudo que aconteceu comigo, porque na real não to afim mesmo, mas quem esteve próximo de mim o mínimo possível sabe de algumas coisas.
Mas, a ideia aqui é repudiar a inconstância. Trazer um relato verdadeiro, honesto e transparente de como me livrei dela, como passei por cima e parei de me vitimizar usando-a como muleta pra muita coisa que me cerca, fazendo de mim um cara superficialmente contente e sociável, mas absolutamente medroso e inseguro.
Por sinal, escrever esse texto em primeira pessoa me expõe de tal forma que confesso não saber se terei coragem de um dia mostrá-lo a alguém. Até aqui é quase um relato, um diário, um cara de quase 30 anos choramingando, exercendo sua verborragia e sua cabeça borbulhando num pedaço de papel ou de tela.
Outro detalhe é que eu juro que não queria escrever sempre em primeira pessoa. Minhas músicas são assim, meus textos, meus relatos e tudo que crio. A terapia já me levou a pensar e concluir que eu me sinto bem externalizando o que sinto dessa forma, que sinto mais verdade nas coisas contadas em primeira pessoa, sinto mais proximidade e honestidade nas pessoas que cospem seus sentimentos, sejam eles em forma de arte ou não, do que pessoas que buscam filosofar, encontrar palavras bonitas, teorias, explicações e afins. Pode soar meio narcisista, arrogante, petulante, prepotente ou qualquer outro adjetivo, eu sei.
E sempre tive medo que me enxergassem assim, mas cheguei a conclusão que eu me sinto mais seguro dessa forma. Não que queira chamar atenção ou ser o centro das atenções, mas porque é assim que eu me verbalizo, se for pra falar de mim tem que ser em primeira pessoa mesmo e se for pra externalizar o que estou sentindo, que seja com palavras torpes, sem necessariamente buscar formas de passar a mensagem sem que os outros saibam que estou falando de mim. Talvez seja por isso (TALVEZ NAO, CERTEZA!), que 80% das músicas que compus nunca saíram da gaveta.
Mas enfim, inconstância né? Repúdio e tal…
No outro texto eu cito que ela faz parte de mim. Sempre parece que falta uma frase naquela canção, um tópico naquela explicação, um capítulo daquele livro… Sempre parece que não vão gostar ou não estão gostando do que eu falo, do que eu posto ou do que ofereço. Nunca está bom, nunca estou satisfeito. Ou ainda pior, o sentimento de tristeza absoluta de NUNCA TERMINAR O QUE COMEÇOU, perder o gás, o interesse e o foco. Não sou o único assim, eu sei.
E aquela sensação de falta de aprovação que te faz abandonar qualquer projeto? Que MERDA DE SENTIMENTO É ESSE, cara? Vai desistir e deixar esfriar uma parada te faz bem por conta do número de likes e visualizações de uma mera rede social banhada de vidas mentirosas? Pois é, as vezes sim.
Mas, sabe o que é pior? As vezes que consigo ser forte e absolutamente não ligar pra essas coisas, tudo flui naturalmente e tudo fica mais saudável. E tentar resolver isso é um trabalho diário, viu? A desgraça do leão por dia é real. Condicionar a cabeça nos pequenos atos pra se livrar disso, se concentrar naquilo que realmente importa, porém tentando não abandonar, tentando continuar verbalizando e produzindo. Independente do que falam, do que zombam, do que desacreditam e do que desdenham. O desdenho (ou desprezo) é o que mais machuca, inclusive. Daqueles que estão próximos, daqueles que amamos… E se externalizar, vira motivo de piada e etc. Enfim, olha eu choramingando de novo. Queria eu saber agir da forma com que eu falo para as pessoas agirem rs.
MAS AGORA É SÉRIO. INCONSTÂNCIA, NÉ? R E P U D I O!
Só nesse texto já deu pra perceber que ela continua aqui e que mesmo 4 anos depois, ela não se foi. Porém, não quero escrever isso com sentimento de vitimismo, pra parecer que depois de todo esse tempo nada mudou. Pois mudou sim, senhor!
Hoje, mais maduro aprendi a conviver com ela. Queria que ela existisse? Absolutamente não, mas aprendi a controlá-la. Aprendi a depositar a expectativa certa nos projetos certos, aprendi a curtir o momento da construção de algo, desfrutar do caminho, do aprendizado, da experiência e se o projeto chegou a conclusão, aproveitar também esse momento, mas se caso não chegar, aprendi a entender que faz parte. As histórias ficam para sempre eternizadas na memória, no coração e na alma. A casca e a bagagem não podem ser desfeitas.
Se esse é o melhor caminho e melhor forma pra lidar com isso, não sei, mas fato é que me sinto menos aflito com esse sentimento atualmente. Ainda buscando respostas e entendimentos com muita (mas muuuuita) terapia. Analisando meus padrões de comportamento e tentando selecionar cada vez mais quem devo e posso escutar.
No outro texto eu digo:
"Se faltou uma frase na música, escreva de novo.
Se faltou um tópico na reunião, fale num outro momento.
Se a nota menor da melodia te incomoda, crie uma melodia com notas maiores.
Se o projeto falhou, jogue os rascunhos no lixo e comece outro".
Talvez, hoje eu apenas complementaria tudo isso dizendo: Faz de novo, mas só se realmente for uma vontade sua e principalmente, não sofre só pelo que falta, mas aproveita o que já foi feito.
"Se faltou uma frase na música, aproveite as frases que já foram escritas.
Se faltou um tópico na reunião, então aproveita pra reforçar a importância dos outros tópicos.
Se a nota menor da melodia te incomoda, aproveita a sonoridade das outras notas.
Se o projeto falhou, desfrute do caminho e aprendizado que teve com ele pra tentar não falhar de novo.
A inconstância continua sendo minha inimiga e eu sigo na luta de exterminá-la de dentro de mim, mas posso dizer que hoje ela se enfraqueceu e a virada de chave pra mim foi entender o processo de aproveitar e desfrutar o caminho, independente do resultado final.
Mas também é óbvio que não poderia terminar esse texto assim, porque vai parecer que derrotei pra sempre esse inimigo. POIS NÃO! (Afinal de contas isso nem faria sentido com toda primeira parte do texto rs).
A virada de chave foi dada, hoje aprendi a como condicionar minha cabeça pra TENTAR não criar expectativas e possivelmente frustrações com os projetos, acontecimentos e etc. Uma maturidade que muitas vezes me faz parecer uma pessoa mais fria e racional, mas que definitivamente encontrou uma forma de lidar com tudo isso.
Como o amigo mais foda que a vida já me deu me ensinou, encontrar o equilíbrio entre a dopamina e os neurotransmissores do "aqui agora" dentre eles, serotonina e endorfina. Para desfrutar do caminho e também do objetivo, seja ele alcançado ou não.
E assim continuar dia após dia, tentando.
E saindo no soco com a desgraça do Leão.
Ou seja, concluindo o raciocínio da mesma forma que 1346 dias atrás:
Constantemente inconstante. Pois é.
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